© Nicolás Saieh
Arquitetos:Cristián Fernández Arquitectos, Lateral arquitectura & diseño
Ano Projeto:2008
Área construída:440000 m²
Localização:Av. Libertador Bernardo O’Higgins 227, Santiago, Chile
Fotógrafo:Nicolás Saieh
INTRODUÇÃO
Vivemos num tempo em que é mais fácil desfazer-se de algo que reconstruir,consertar, reparar, adaptar e dar nova qualidade a algo. Os objetos e edifícios de nosso entorno possuem uma história oculta que é necessário descobrir ou redescobrir. Percebemos ao trabalhar com uma estrutura existente, o imperativo de uma leitura e releitura contínua dos elementos da obra original. É para nós a busca do enigma na obra e a subsequente possibilidade de decifrar esse enigma.
Nós gostamos de pensar que esse quebra-cabeça pode ser traduzido, nas palavras de Pierre Bourdieu, como “um sentido do jogo” que não depende necessariamente dos projetistas, mas ocorre ao longo do tempo e com o uso e isso depende do que se deve viver e dos atores sociais envolvidos. Acreditamos que este fato por si só merece ser desvendado, e neste caso talvez tenha sido a nossa premissa na hora de projetar.
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Consideramos que trabalhar com o edifício Diego Portales (ou o que sobrou dele) é um presente. Vimos um desafio, mas também grande oportunidade, de trabalhar com todo o ônus histórico que a nosso ver não poderia ser perdido em curto prazo por anseios políticos, etc.
CONTEXTO HISTÓRICO
Este edifício, como nenhum outro, foi um grande agente durante um período da nossa história recente que foi marcado pela polarização ideológica, política e de divisão social. O edifício foi construído como um símbolo do “homem novo” durante o governo de Salvador Allende e, em seguida, após o golpe, se tornou a sede do governo do regime do general Pinochet, incorporando o “poder total”.
Assim, durante as últimas três décadas, a partir do ponto de vista da cidade, este edifício permaneceu fechado e guardado por questões de segurança que exigiam uma sede do governo e mais tarde o Ministério da Defesa de quatro posteriores governos. Isto o tornou um edifício não muito querido pela população por sua biografia um tanto “bipolar”.
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O edifício original foi projetado e construído em tempo recorde. Como estratégia, os arquitetos projetaram uma cobertura de grande porte, com proporções monumentais que posteriormente abrigaria distintas atividades sociais durante a execução da obra. Desde o princípio o impacto urbano foi profundo, pois se instalava uma enorme edifícacao de proporções horizontais que por um lado pousava praticamente na calçada da avenida principal da cidade e, do outro invadia um bairro de pequenos edifícios residenciais de características francesas.
Um incêndio ocorreu em 5 de março de 2006, no setor oriental do edifício e destruiu completamente o Grande Salão para 2.000 pessoas,o que acarretou na decisão do governo sobre seu futuro ao convocar um concurso internacional de arquitetura onde se apresentam 55 propostas.
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PROPOSTA URBANA
Do ponto de vista urbanístico como enfrentar o problema não era de edificação em si, mas do seu entorno. A primeira coisa que nos interessava era a quadra, seus edifícios e as alternativas de espaço público. Nossa estratégia de projeto nos levou a definir as novas possibilidades para a cidade e, em seguida, o prédio existente simplesmente se adaptou a um desenho urbano que acreditamos refundaria a relação com seu contexto, em vez de se tornar exatamente o oposto do que era. Dessa forma as palavras de Jean Nouvel nos fez muito sentido: “Um edifício contemporâneo num lugar ou projeto existente é bem sucedido na medida em que ele é capaz de melhorar o seu entorno e ao mesmo tempo revalorizar o meio no qual está inserido”.
Implantação
Do ponto de vista técnico-expressivo, a proposta é simples, no sentido de que leva as ideias e as qualidades arquitetônicas do projeto original a uma livre reinterpretação de uma forma contemporânea, para a construção de um novo programa para o edifício.
Quatro ideias principais foram resgatadas, mas podem ser lidas num único conceito de “transparência”. Elas são: abertura para a cidade e suas relações urbanas através de uma grande cobertura com volumes soltos sob a mesma; a criação de novos espaços públicos; a abertura do prédio para a comunidade através da incorporação de um programa comunitário; e a legitimidade do projeto através da incorporação da maior quantidade possível de agentes sociais na formação de um novo marco para a cidade.
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Nossa proposta é baseada na segmentação de um grande traçado urbano originalmente composto por três edifícios de menor escala que têm a capacidade de articular um conjunto de novos espaços públicos.
ABERTURA E TRANSPARÊNCIA
Optou-se pela transparência e projetar parte da diversificada vida interior do edifício para o exterior. Mostrar as atividades e seus usuários convida ao resto da cidade também a interagir.
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O edifício torna-se um ator importante na promoção e divulgação do que acontece no seu interior e também do ponto de vista urbanístico é um presente para a cidade ao oferecer novos espaços públicos de qualidade, cobertos e equipados. Uma edifícação para artes e cultura deve sempre prover diferentes graus de transparência e formas de partilhar e envolver os seus usuários não só os diretos, mas também toda a comunidade representada nos cidadãos que utilizam nossa cidade e seus espaços públicos diariamente.
Num contexto onde não pode-se exibir tudo (já que no interior do edifício há um número de significativo de salas para espetáculos), o desafio é saber o que e como mostrar. Neste sentido, os diversos graus de transparência são realizados através de um sistema de fachadas que vão gradualmente do totalmente aberto e transparente para o totalmente opaco e fechado.
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As salas destinadas para as artes cênicas são visualizadas no projeto como “caixas ou recipientes”, onde são apresentados concertos de música, dança e teatro. Do lado de fora não se percebe o que acontece dentro, mas é imaginado, notamos que algo importante acontece. A essência de uma sala de artes cênicas deve estar absolutamente desvinculada da realidade externa para criar sua própria realidade. As luzes apagadas, a escuridão, o silêncio e só então pode começar a surgir a fantasia, uma nova realidade. O espetáculo já começou.
PROGRAMA E ORGANIZAÇÃO DO EDIFÍCIO
Horizontalmente, o edifício é organizado em torno de três volumes ou “edifícios” que contêm e representam as três áreas do programa principal. Estes são, na mesma ordem como os edifícios, de oeste para leste: O Centro de Documentação para as Artes Cênicas e Música (Biblioteca), Salas de Formação de Artes Cênicas e Música (salas de ensaio, Museus e exposição) e a Grande Sala de Concertos (Teatro para 2.000 pessoas).
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A partir do nível do espaço público estes três edifícios são separados, e podem ser totalmente utilizados pelos pedestres visando melhor ocupação dos espaços, os níveis mais baixos estão interligados aos três edifícios formando um único. Os espaços de separação entre eles tornam-se espaços cobertos que são os principais espaços públicos entregues à cidade e que convidam aos cidadãos a ocupar estes espaços que de alguma forma se fundem com o projeto.
Os dois primeiros volumes ao oeste são parte da remodelação do edifício existente, que resistiu ao fogo, enquanto o volume restante no Oriente (A Grande Sala de Concertos) é um novo projeto.
Planta Térreo
Verticalmente, o programa dentro de cada um destes edifícios convive e se relaciona através de um átrio de altura tripla a partir do qual se pode perceber a distribuição e orientar-se dentro de cada edifício. Isto é reforçado pelo uso de um único pavimento tanto interna como externamente e com uma solução estrutural que evita os elementos verticais estruturais neste espaço gerando um elevado grau de transparência.
DESENHO E MATERIALIDADE
Os principais materiais de construção são da mesma tipologia utilizada no edifício original e consideramos que há cinco elementos de projeto que são dignos de nota: O uso de aço corten, concreto armado aparente, aço, vidro e a madeira. Não só utilizados como materiais extraídos de um catálogo, mas sempre levados ao limite de sua expressividade.
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O uso do aço corten foi o elo perfeito entre o passado, presente e futuro. Sendo um material nobre, distante das soluções “pré-fabricadas” e das imitações e, está presente no edifício original e tentamos levá-lo ao limite no novo ao usá-lo como revestimento de fachadas e revestimento de piso. No projeto foi aplicado o aço perfurado, liso, natural e dobrado explorando seu potencial, suas nobres qualidades e mudanças resultantes do passar do tempo.
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Este revestimento, que é utilizado principalmente em nossas fachadas, alternado com as cortinas de vidro e grandes aberturas seguiu dois jogos básicos e vários outros secundários de disposição. Os dois princípios são: o aço corten perfurado é a pele do edifício que o reveste em quase sua totalidade,e quando no interior ocorre alguma atividade que merece ser vista do exterior, se torna perceptível, pois permite ao volume de vidro revelar o seu fascinante interior. Este é o caso da Sala de Ensaio de Dança, Sala de Leitura da Biblioteca e alguns vazios do edifício. O segundo jogo é o aparecimento de caixas de vidro que de certa forma deformam a pele de aço corten produzindo mudanças constantes como a luz incide sobre as fachadas. Combinando estes dois jogos cria-se um tipo curioso de espontaneidade no projeto que nos permite aspirar a futuras releituras.
O projeto de revestimento de piso tanto interior quanto exterior recebe aplicações de aço corten em tiras de 10 x 120 cm de forma aleatória.
ACÚSTICA E CENOTÉCNICA
Dadas as especificidades do programa, o edifício possuí acústica e equipamentos sofisticados de cenotécnica necessários para o perfeito funcionamento das principais atividades.
Do ponto de vista acústico cada sala foi tratada de forma independente à procura de gerar conforto acústico de acordo com cada atividade. A solução acústica geralmente consiste de uma pele dupla interna separada da estrutura, que dependendo de sua posição e função dentro de cada sala (emissoras, refletoras ou absorventes).
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O desenho de cada caso foi feito através de um projeto proposto por arquitetura em coordenação com o especialista acústico. Assim, por exemplo, a Sala de Música apresenta um desenho de planos inclinados e com rupturas que são capazes de direcionar o som para todos os telespectadores de boa forma e ao mesmo tempo, dando para a sala uma expressão, acolhedora e contemporânea. No caso da Sala de Dança-Teatro se optou por uma expressão mais sóbria, com placas dobradas feitas de lâminas articuladas. Ambas as salas possuem espaços para o controle de Áudio e de Iluminação localizado na parte inferior de cada recinto apropriando-se das antigas cabines de tradução do antigo Edifício Diego Portales.
Do ponto de vista Cenotécnico o edifício conta com equipamento único no país onde se incorporaram todos os elementos e dispositivos necessários para a boa execução dos espetáculos que serão realizados neste local. A Sala de Teatro e de Dança possuiu pontos de iluminação, postes cenográficos com as últimas tecnologias no campo.
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A Grande Sala de Concertos para 2.000 pessoas possui um complexo equipamento Cenotécnico que inclui, entre outras coisas: cabines de controle de iluminação, áudio e vídeo, três pontes para iluminação de palco, cortina de fogo, sistema de iluminação (motorizada e manual) e os espaços correspondentes necessários para o bom funcionamento destes equipamentos.
Ficha técnica:
Arquitetos:Cristián Fernández Arquitectos, Lateral arquitectura & diseño
Ano:2008
Área construída:440000 m²
Endereço:Av. Libertador Bernardo O’Higgins 227 Santiago Chile
Tipo de projeto:Cultural
Operação projetual:Ampliação
Status:Construído
Materialidade:Vidro e Metal
Estrutura:Aço e Metal
Localização:Av. Libertador Bernardo O’Higgins 227, Santiago, Chile
Implantação no terreno:Isolado
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